quinta-feira, 7 de junho de 2018

Mil Vezes Adeus de John Green

Aza é uma jovem peculiar. É aparentemente normal, porém as suas espirais de pensamento asfixiantes dificultam-lhe a vida. Sofre horrores com os seus graves problemas de ansiedade, não consegue tirar da cabeça o pensamento de que vivem milhões de bactérias dentro de si, à espera de a pôr doente, e passa o dia a mudar o penso rápido no seu dedo médio, que fere constantemente numa tentativa de perceber se é real.

Davis é apaixonado por estrelas, poeta, solitário e... o filho mais velho do bilionário Russell Picket, que desapareceu misteriosamente na noite anterior a uma busca policial à sua casa.

Ambos perderam pessoas que amavam, acabando por se conhecer num acampamento, e criando laços que, anos mais tarde, os volta a unir quando o pai de Davis desaparece e é oferecida uma recompensa de 100 mil dólares a quem tiver informações sobre o paradeiro deste.

Aza é então impulsionada pela sua melhor amiga, Daisy, a reconectar-se com Davis, de modo a tentar obter o paradeiro do bilionário e tentar ganhar a recompensa.


Green


As personagens são uma mistura de maravilhosas, estranhas e fascinantes. Tem a dose certa para nos agarrar ao livro.

Existem duas "narrações" implícitas neste livro, isto é, uma narração interna e uma externa. A externa é todo o enredo sobre o qual fala a sinopse, a interna é sobre o TOC e transtorno de ansiedade de Aza.

Apesar da sinopse parecer que o livro vai ser sobre uma aventura ou algo no género de livro de detetives, não se deixem enganar, esse, a meu ver, é um enredo secundário. O enredo principal é a batalha interna de Aza.

Este livro fala sobre ansiedade, perda e sobre a superação das mais difíceis batalhas: as que travamos dentro de nós.

É uma masterpiece de introspeção e descobertas sobre nós e o universo.

É um livro muito lindinho. Perfeito mesmo! É aquele livro que lava a alma e tira ressacas literárias num estalar de dedos.

Incrível como o autor conseguiu descrever aquilo que uma pessoa com transtorno de ansiedade sente e, apesar da ansiedade se manifestar das mais variadíssimas formas, penso que ele conseguiu captar muito bem a espiral de pensamentos pela qual alguém com ansiedade passa.

É muito difícil explicar a ansiedade e através das suas metáforas John Green conseguiu alcançar algumas formas de traduzir em palavras algo tão difícil de se sentir (quanto mais explicar...).


Vi partes de mim representadas neste livro que nunca soube traduzir em palavras.


Ao longo do livro dá para se perceber claramente que as facetas da fase "ansiosa" e da fase "normal" estão um pouco descompensadas, num momento Aza está bem e no outro está a entrar em ataque de pânico. Green soube muito bem mostrar o que é que uma pessoa que entra em pânico sente: falta de controlo sobre o seu corpo e mesmo que de início tentes ganhar essa guerra, perdes sempre a batalha conta o teu cérebro. Ele vence-te pelo cansaço... Porque se não o ouvires a ansiedade nunca vai parar...

É preciso ser de uma sensibilidade extrema, ter um dom incrível para as palavras e, acima de tudo, é preciso saber estar na pele de alguém com este transtorno, e John Green esteve por isso ninguém melhor que ele para descrever estes transtornos!

🌳

Em relação ao título e capa, preferia "mil vezes" a capa original, tinha muito mais significado tendo em conta o conceito do livro. A capa portuguesa passa acima de tudo aquela ideia da amizade. Além disso, apesar de ter entendido porque traduziram o título para "Mil Vezes Adeus", penso que "Tartarugas até ao infinito" tinha sido a melhor tradução... Pura a simplesmente entende-se que o livro é sobre vários adeus que se diz, o que não está completamente errado, porém a espiral de pensamentos e o universo ser composto por tartarugas sobrepostas "por ali abaixo" é o que cai como nem uma luva a toda a ansiedade da Aza que o autor nos transmite.

Daisy é uma lufada de ar fresco para Aza, mas só às vezes. Outras vezes irritou-me profundamente a sua falta de tato e de sensibilidade. Alguém como Aza tende a virar-se para dentro, porque a ansiedade assim o exige. Daisy não entendia e também devido a isso acabou por trazer Aza para a realidade e tirá-la um pouco daquele meio de silêncio em que se refugiava.

E com essas pequenas coisas vamos vendo a evolução das personagens e conseguimos perceber perfeitamente porque permanecem amigas.


O "The Guardian" diz:
"Podemos estar perante um clássico da literatura moderna." 


E eu digo: Não "podemos estar", nós definitivamente estamos perante um clássico de literatura moderna!

É um livro que deixa uma centelha de esperança a todos aqueles que sofrem de algum transtorno e não conseguem ver a luz ao fundo do túnel, ou talvez tentem ver mas o seu cérebro ansioso obriga-os a questionar tudo.


Classificação: ★★★★☆


"És ao mesmo tempo o fogo e a água que o apaga. És a narradora, a protagonista e a comparsa. És a contadora da história e a história contada. És a alguma coisa de alguém, mas és também o teu tu."



3 comentários:

  1. Ando há que tempos para comprar esse livro mas passo sempre à frente. Agora com a tua opinião vou definitivamente comprar quando o vir ahah

    Beijinhos
    THAT GIRL | FACEBOOK PAGE | INSTAGRAM | TWITTER | YOUTUBE

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  2. Também sofro de ansiedade, por isso identifiquei-me com a tua descrição. Um "must read", sem dúvida! Obrigada pela partilha ^^

    Nomeei-te para o desafio Sunshine Blogger Award! Visita o link:
    http://missdeblogger.blogspot.com/2018/06/sunshine-blogger-award.html

    Fico à espera das tuas respostas!

    Beijinho!

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