domingo, 22 de setembro de 2019

O coração vive de sorrisos | Carolina Cruz

Carolina

O coração vive de sorrisos é um tesouro cheio de diversidade, várias formas e gestos de amor e histórias que podem ser ficção, mas que não duvido que ocorram por aí no vasto mundo em que vivemos.

Este livro é um conjunto de 5 histórias: a de Cláudio com paralisia cerebral, a de Alice com síndrome de Down, a do Samuel que tem esquizofrenia, a de Madalena com síndrome de Tourette e a de Maria Inês com síndrome de Aspenger.

Como diz a Carolina:
"O amor não tem forma, o coração não tem rosto. O amor não nasce nem se mede pelo corpo, sexo, eficiência ou defeito. O amor é tudo aquilo que nos faz sentir bem sem sabermos porquê, sem sabermos porque se ama alguém ou sabermos totalmente porque sentimos aquele friozinho na barriga."
Esta citação aparece logo na primeira página e ficou-me imediatamente gravada na memória. Quando terminei o livro voltei a relê-la e vi como este parágrafo reflecte tão bem cada história!

A Carolina conseguiu mostrar que estas condições se ultrapassam com a ajuda, carinho, paciência e muito amor dos que nos rodeiam.

De pequenos a graúdos conseguimos ver a forma como cada um lida com a sua condição e cada um deles mostra-nos uma forma diferente de olhar a vida e de sorrir.

Tentei escolher uma história favorita mas não me consigo só dividir por uma... Mas sem dúvida que a primeira, sobre o Cláudio, me impactou e fiquei logo cheia de vontade de ler todas as outras. Também gostei bastante da história da Madalena. Cada história é diferente e enche-nos o coração de diferentes formas.

E os plot twists? Jesuuus, quero livros completos desta autora, se ela me troca as voltas em histórias pequenas, imagino num livro completo!

A Carolina escreve com muita inteligência e fluidez. Acho que a sua escrita se adequa a todas as idades. Gostava mesmo muito de ler mais livros dela, é tão bom ler algo assim fantástico criado por alguém do nosso país. Bate cá um orgulho..!

Aviso Legal: Este livro foi-me enviado pela autora (a quem agradeço imenso) em troca de uma resenha honesta. Todas as opiniões expressas nesta resenha são verdadeiras e completamente minhas.

Classificação: ★★★★☆

Com amor, Brenda

Não, não era só um gato

3 meses sem o meu menino.

Um dos meus maiores medos foi sempre este: viver além dos meus gatos. Sei bem que é inevitável mas esperava que isso acontecesse num futuro bem longínquo. Mas não, é o presente... Há 3 anos a Shy escolheu-me. Eu resgatei-a da rua, mas foi ela quem me adotou. 

Mais tarde, em Março de 2019 ela veio a dar-me aquele que é a minha outra metade: o Miyagi. 

O Miyagi foi outro bichinho que me adotou, porque inicialmente eu não ia ficar com ele, pois à partida ele já tinha uma família adotiva. Mas no fim das contas essa família desistiu da adoção e eu decidi que entre os dois gatinhos que tinha para doar: o Bambi e o Miyagi, era impossível ficar com outro gato que não o meu pretinho. 

Nunca acreditei muito nisto de almas gémeas, nem tão pouco com animais! Mas com o Miyagi foi tudo diferente, algo me faz crer que as nossas almas estavam destinadas a se encontrar. 

Como qualquer gato fazia das suas, mesmo que eu dissesse "Sai daí de cima" ou "Não arranhes o sofá" ele continuava, ainda fazia cara de inocente e era impossível brigar com aquela fofura. 

Antes de perder o Miyagi só conseguia imaginar o que seria perdê-lo ou à Shy. Quando pensava nisso agarrava-me a eles e rezava para que esse momento fosse o mais longínquo possível. E mesmo quando não conseguia imaginar, porque ainda não tinha encontrado este tipo de amor, respeitava a tristeza da outra pessoa porque só essa pessoa sabia o que sentia e o quanto custava a perda. Nunca disse "Isso já te passava, não? Não tens que chorar mais por causa de um gato", (e gostava de não ter ouvido isso). Sei que a morte faz parte da vida, mas o respeito e a empatia também fazem, por isso se, felizmente, nunca passaram por isso ou não compreendem o amor que se pode ter por um animal, que simplesmente respeitem (e não invalidem).

Além disso, questiono-me se quem me diz, mesmo que com boas intenções, "Arranja outro" também diz o mesmo a alguém que perde um filho, uma mãe, ou outra pessoa que ama. "Ah Brenda, não compares um gato a um ser humano" comparo sim, porque isto não é uma roupa que se estraga e vais à loja comprar outra, não é um telemóvel que parte e compras a débito ou crédito. Isto é uma vida. Uma que nem clonada será igual.

Às pessoas que dizem "É só um gato!" só tenho a dizer: Tivessem muitas pessoas o amor que tenho aos meus gatos. Tivessem muitas pessoas alguém que se importasse tanto quanto eu me importo. E há sempre o recalcado, uma alma com rancor, que nestas alturas começa a evocar argumentos alegando que há quem goste mais de animais e lute mais pelos seus direitos do que pelos direitos do ser humano. E é quanto mais conheço essas pessoas que mais amo os meus bichinhos, porque de repente não lutam por nada na vida, mas criticam quem luta pelas suas causas.

O Miyagi não era só o meu gato, era o filho da minha Shy, era o meu morcego, o meu demónio, o meu mimoso, o meu amor, o meu filho.

Não haverá outro Miyagi, nem em mil vidas nem no multiverso. Miyagi há só um e ele agora vive no meu coração. O nosso amor é para sempre 🖤

Por isso fiz este vídeo, para vos mostrar que não, um gato não "é só um gato". Há definitivamente uma Brenda antes do Miyagi e uma Brenda depois do Miyagi. Não vos consigo explicar o quanto este gato foi o amor da minha vida, mas talvez consigam perceber um pouco com este vídeo:

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

A Passagem | Horácio N. Medina

Em primeiro lugar, agradeço ao Horácio pelo envio do livro.

Poesia é das coisas que mais gosto de ler, mas, surpreendentemente, agora que penso nisso não tenho lido muita em português. 6 anos para ser mais precisa! Portanto, A Passagem é o primeiro livro de poesia que leio em português em anos, o que só por si já o torna um livro especial.

Passagem
A foto não foi tirada na hora de melhor iluminação solar, ficou um pouco estourada como podem ver (ou serei eu que estou demasiado branca?? Devia ter ido mais à praia I guess ahah). Mas como adorei o local, e não podia esperar pela Golden Hour, queria mesmo tirar a foto deste livro aqui!

Este livro relembrou-me os tempos de escola em que lia e amava cada palavra de Fernando Pessoa. Agora vocês dizem "Credo Brenda, estás a comparar este livro às análises chatas que se fazem na escola", não, não estou, calma! Estou a comparar aos poemas cheios de palavras e significados escondidos que tornam a leitura de um poema uma grande aventura dependendo da interpretação e vivência de cada um. 

E foi assim que me senti a ler o livro do Horácio: A Passagem é uma aventura! Adorei ler cada um dos poemas e procurar os significados escondidos, interpretar cada poema e... colocar marcações em quase todas as páginas!

O livro A Passagem está dividido em 3 partes: os Campos, a Corrente, a Passagem.

Na primeira parte temos uma pessoa que não sabe quem é e que adora as coisas simples da vida. Confesso que me lembrou Alberto Caeiro com toda a vontade de voltar à natureza e às coisas e sensações simples da vida! 

A segunda parte é sobre irmos na corrente da vida, sobre descobrirmos quem somos pelo caminho. Há dúvidas, há certezas, voltam a haver dúvidas, mas é assim que é viver.

Na terceira parte parece-me que o sujeito poético estava consciente da morte, do fim da vida, daquilo que importa e dos sonhos que todos devemos ter e lutar como uma criança é capaz de lutar por aquilo que acredita. Uma criança não é corrompida pela realidade do que pode ser possível e impossível num sonho. Um adulto vive de aparências, vive daquilo que é belo por fora e vazio por dentro. E o sujeito poético parece-me um observador nesta parte, observador de uma realidade mais pesada, mais sombria.

Partilho convosco um pouco do meu poema favorito desta parte:

"(...)
Dói-me a cabeça das coisas que passam nela,
E das coisas que lhe passam e ficam bem dentro.
Ouço vozes de risos e congratulações,
(talvez de alguma ligeira comédia)
Que saem das bocas alheias que desconheço,
Do desconhecido que é meu.
E, porque é meu, assim o devesse conhecer,
E a alma devesse ficar inteira
E as vozes assim devessem ser sussurros...
E eu devesse ser alguém mais que eu,
Eu, que nada mais sou que eu?
À margem do que sou, só o rio das minhas 
                                                                    [vontades
E o universo da minha capacidade. 
(...)"
Excerto do Poema I de A Passagem de Horácio N. Medina


Se pudesse deixava-vos aqui todos os meus poemas favoritos mas a questão é que... ia ter que transcrever praticamente o livro todo e isso não é propriamente legal, não é mesmo? Por isso, leiam para perceberem do que falo.

Este livro acompanhou-me nos dias em que fui a Lisboa e não podia ter escolhido melhor leitura para me acompanhar nas viagens de avião.

Aviso Legal: Este livro foi-me enviado pelo autor em troca de uma resenha honesta. Todas as opiniões expressas nesta resenha são verdadeiras e completamente minhas.

Compra aqui: Wook | Bertrand

Classificação: ★★★★☆

Com amor, Brenda