quarta-feira, 11 de março de 2020

O avô tem uma borracha na cabeça | Rui Zink

Sou fã de livros para crianças, não sei se porque ainda permaneço uma, se porque outrora tive o sonho de escrever livros infantis (quem ainda se lembra que publiquei um conto ilustrado com a Sofia Magalhães na iniciativa "Jovens Autores de Histórias Ilustradas" da Leya/Nissan?). Por isso, quando a Porto Editora concordou enviar-me uma cópia deste livro, a criança em mim pulou de alegria.


Este livro conta a história de um neto criativo que tenta lidar da melhor forma com a descoberta de que o seu avô tem Alzheimer.

O que fazer quando alguém que amamos se esquece de nós? Como devemos lidar com isso? Será que contamos às crianças?


Este livro, sendo sobre uma doença que cada vez mais tem vindo a atingir as famílias portuguesas, tem uma forma delicada de abordar o tema, mostrando que é, sim, necessário falar sobre doenças, como o Alzheimer, às crianças.

Este é um livro que nos lembra, tal como diz o autor, que a pessoa pode já não ser ela, mas nós continuamos a ser os mesmos, e eu acredito que isto serve não só para esta doença como para tudo na vida. Não importa o que o outro faz, a forma como respondemos a isso só depende de nós. Não é porque a pessoa não se lembra que vamos deixar de a amar, de demonstrar carinho e de a tratar com respeito e com a decência que merece.

Um livro com uma história tão simples, mas uma mensagem gigante! Um livro que toda a gente deve ler, pequenos e graúdos, para relembrarem que quando o outro esquece, a tarefa de recordar com alegria as aventuras vividas cabe-nos a nós que não temos a borracha na cabeça.

As ilustrações do livro são feitas sob a forma de colagem e são das melhores coisas que vi nos últimos tempos, ora vejam:

Não há forma simples de lidar com esta doença, nem uma forma clara de a explicar às crianças, mas este livro faz um bom trabalho a sintetizar o fundamental:

"O amor é mais forte que o esquecimento."

Classificação: ★★★★☆ (4/5)

Aviso Legal: Este livro foi-me enviado pela editora em troca de uma opinião honesta. Todas as opiniões expressas nesta resenha são verdadeiras e completamente minhas.

Com amor, Brenda

domingo, 8 de março de 2020

As aves não têm céu | Ricardo Fonseca Mota


As aves não têm céu conta-nos a história de um pai que perde uma filha num acidente e luta desesperadamente para a manter viva na sua memória.
"Agarra-se desesperadamente à memória com a mesma força com que luta para se esquecer do que aconteceu. Como pode deixar a filha morrer novamente, agora dentro de si? Não pode. Leto morre de medo de a esquecer. Por isso não consegue adormecer. Tem medo de não se lembrar da voz dela quando acordar. Tem medo de sonhar com ela deitada no caixão branco. Tem medo."
Achei a personagem do Leto bem construída, como que se ele deixasse de existir como pessoa, não havendo descrições profundas de quem ele é exatamente, existindo apenas e só sofrimento. É tanto o sofrimento descrito que inunda tudo o que nos vai sendo contado sobre a vida de Leto antes e após o acidente.

A escrita é completamente diferente de tudo o que já li, com um misto de uma narração do que está a acontecer, ou aconteceu, com frases pelo meio do que a personagem ou o narrador estão a pensar. Como quando estamos a formular um discurso na nossa cabeça e aparecem uns pensamentos aleatórios que não pertencem à sequência do que estamos a pensar naquele momento, mas que mostram o que verdadeiramente se está a passar no nosso inconsciente naquele momento.

E o que se atravessa no raciocínio do Leto são as últimas palavras da sua filha "-Pai! -Pai!"

Mas não só da história de Leto se compõem este livro. Também conhecemos as histórias da Outra, do Cid, de Raúl e de um taxista que é Eduardo que é Falcão, ou Falcão que é Eduardo. E com todas estas outras personagens percebemos que nunca vamos saber o que realmente se passa na vida das pessoas com quem convivemos.

"A memória é uma ficção como outra qualquer."

Apesar de ter sido uma boa leitura, senti que com este livro ficou a faltar algo. Apesar de a escrita ser original, de ter gostado da história, de ter imensas citações incríveis e coisas com que me relaciono (não perdi um filho humano, mas perdi um filho gato), penso que por a história andar sempre num para arranca entre personagens e aos círculos (e sim, eu sei que é assim quando estamos de luto) não consegui gostar tanto dela como esperava. Senti que faltou qualquer coisa a este livro que o fizesse ser excecional. Mas também pode ser a iludida humana em mim a querer um final feliz, uma luz ao fundo deste túnel que é o luto... e talvez não haja...

Classificação: ★★★★☆ (4/5)

Este livro foi-me recomendado pela Míriam do blog Míriam The Mermaid e li-o para o desafio #newyearwithbooks2019 .

Compra o livro: Wook | Bertrand

Aviso Legal: Este livro foi-me enviado pela editora em troca de uma opinião honesta. Todas as opiniões expressas nesta resenha são verdadeiras e completamente minhas.

Com amor, Brenda