E, para encerrar a ronda das entrevistas da 1ª edição do "De Livro para as Ilhas", trago-vos uma pequena entrevista a um autor que dispensa apresentações, pois é dos autores açorianos mais conhecidos no continente: o terceirense Joel Neto!
1. Ser Açoriano é... (complete a frase)
J: ... não saber exactamente o que se é. Se se é terra ou água, se se é ilha ou continente, se se é carne ou pedra – se se é gente ou sereia, como escreveu Nemésio. É não saber a resposta a nenhuma dessas perguntas e fazer da vertigem da dúvida um mote criativo.
2. Alguma vez sentiu que o facto de ser açoriano tornou mais difícil ser lido nacionalmente ou dificultou a projeção mediática no mercado literário?
J: Pelo contrário, sinto que o meu trabalho desperta mais interesse precisamente por eu ser açoriano. Tenho uma vantagem, claro: fui jornalista de quase todos os grandes jornais portugueses, vivi em Lisboa vinte anos – e vivi mesmo, não me limitei a sobreviver. Mas, mesmo que não tivesse portas abertas, estenderia sempre o braço na direcção do outro. Também é isso um açoriano – se calhar mais do que qualquer outra coisa.
3. Enquanto escritor, tem algum hábito em particular na hora de escrever? Por exemplo, usar a mesma caneta ou comer as famosas cornucópias da Terceira?
J: Não tenho hábitos inúteis, mas tenho rotinas úteis. Trabalho no meu shed, na minha cabana. Uso sempre computador, catalogo todas as ideias que tenho a partir do meu telemóvel, uso o Excel (um programa inusitado, mas cheio de potencialidades) para o planeamento... Ah: e bebo café e fumo. Afinal, tenho hábitos inúteis também – aquele café não serve para nada.
4. Tem algum livro aguardando publicação? Se sim, pode dar-nos alguma pista sobre o que poderá tratar?
J: Tenho um livro a entregar no fim do ano para sair em 2022 e outro a entregar no fim de 2022 para sair em 2023. Posso adiantar que são ambos de ficção, uma novela e um romance. O âmbito em que ambos são redigidos, o fim que cada um deles persegue, a relação destes com os respectivos resultados finais – isso é surpresa.
5. Enquanto leitor, qual o género que predomina na sua estante?
J: O romance, claramente. Mas nos últimos anos tenho lido bastante ensaio.
6. Qual o seu sítio favorito para comprar livros?
J: Eu podia dar-lhe uma resposta para meter estilo, mas creio que o favorito é mesmo o Chiado. A Fnac, a Bertrand, os alfarrabistas... Gosto do Chiado, gosto de voltar a Lisboa, e é sempre ali que encontro mais amigos sem planear. Quase todos os lançamentos dos meus livros acontecem na Fnac do Chiado.
7. Que livro escrito por um(a) autor(a) açoriano(a) é, na sua opinião, de leitura obrigatória?
J: Muitos são de leitura obrigatória. Quem não leia mais nenhum tem de ler ao menos Mau Tempo no Canal, de Nemésio; Gente Feliz Com Lágrimas, de João de Melo; e, para escolher um terceiro, a trilogia Raiz Comovida, de Cristóvão de Aguiar.
8. Que livro de autor insular (ou cuja história se passe nas ilhas dos Açores ou Madeira) gostava de ler até ao final do ano?
J: A Mulher, O Jogo Mais Perigoso, de Maria Luísa Soares.
9. Qual o seu lugar favorito da ilha Terceira? Esse sítio já inspirou de alguma forma a sua escrita?
J: O interior da ilha. Todo ele. E, sim, completamente – pelo menos o Arquipélago e os dois volumes do diário A Vida no Campo.
10. Dê-nos 3 motivos para visitar a Terceira.
J: Uma paisagem harmoniosa; o peso inexpugnável da história; uma gastronomia exultante; a força do Espírito Santo (e di-lo um ateu). Quatro motivos, afinal.
11. Deixe umas últimas palavras a quem lê esta entrevista.
J: Não desistam de mudar o mundo. E façam planos até ao último dia das vossas vidas.
Agradeço ao Joel por ter aceite o convite para a entrevista e agradeço a todos vocês que, ao longo do desafio, foram acompanhando as entrevistas dos vários convidados.
Espero que tenham gostado de conhecer um pouco mais sobre o povo açoriano que escreve, lê e divulga livros.