segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Era uma vez uma gastroenterite


Para quem é universitário comer mal já é hábito, beber pouca água também e o resultado é o nosso sistema imunitário ficar fraco.

Ora há um meses apanhei daquelas gastroenterites bonitas e fui fazer uma visita ao serviço de urgências do hospital.

Foram "apenas" 24h no hospital, mas bastou isso para me deparar com um tanto de situações curiosas que espero não vir a presenciar nem tão cedo.

Pelo meio de uma ala de urgências pilhada de doentes e funcionários do hospital, adolescentes embriagados, mães em desespero e um tarado na sala de inalação a olhar fixamente para mim enquanto eu ardia de febre, a pior das situações aconteceu na cama ao meu lado.

Então foi assim:

Uma senhora de idade, com quem já tinha tido a oportunidade de trocar alguns dedos de conversa durante a sua longa espera, já tinha sido transferida 2 vezes, com grandes intervalos de tempo, e até ali ninguém a tinha observado ainda. Ora, depois de algum tempo, uma médica veio finalmente avaliar a situação da senhora, falou com a funcionária do lar que a tinha vindo acompanhar e pediu que chamassem um membro da família. Aparentemente, a pessoa já se encontrava no hospital porque pouco depois apareceu por lá. Passou por nós e a senhora disse "Filha, vieste ver-me, dá-me um abraço!" (tom de voz emocionado) Ao que a "filha" responde "Não te vim ver! Vim falar com a médica!" E passou sempre para a frente, sem parar para olhar a mãe por 2 segundos...

Olhem, eu já estava doente, com febre e a vomitar até às tripas e assistir a tal atitude de desprezo... Vou-vos contar... Se eu tivesse forças tinha ido dar chapadas no focinho daquela mulher até ela ir dar atenção à senhora doente!

E como se não bastasse o desprezo da filha, ainda que se saiba que no serviço de urgência é muito difícil dar conta disso e que não é propriamente um hotel em que se sirvam excelentes refeições, ela esteve até à noite sem comer. Resumindo, ela entrou por volta do meio dia e pelas 7 da noite é que lhe deram um chá e umas bolachas de água e sal.

Entretanto fui transferida e deixei de a ver, não sei como a senhora ficou, mas pensemos: Quantos de nós gostaríamos de ser tratados desta forma quando chegamos a uma certa idade? Lembrem-se que os mais velhos não são apenas frágeis fisicamente, são também a nível emocional.

E tal como cuidaram de nós quando éramos pequenos, temos nós agora o dever de cuidar deles quando eles regressarem a esta segunda infância repleta de histórias e sabedoria.

1 comentários:

  1. Quando somos universitários temos tendência a comer mal e a desvalorizar a nossa saúde, é verdade, mas temos que saber reconhecer os nossos limites. É difícil, mas não vale a pena dar cabo da saúde por um curso :).
    Como estudante de Enfermagem já estagiei em diversos sítios, por isso identifico-me bastante com este post. Vê-se cada coisa que só visto. E filhos a desprezar pais é o que não falta, infelizmente.
    Concordo contigo, se os nossos pais cuidaram de nós quando éramos pequenos, nós também temos o dever de cuidar deles quando forem idosos. E é mesmo verdade, a velhice é uma segunda infância só que com mais sabedoria, porque infelizmente os idosos ficam muito frágeis fisica e psicologicamente.
    Beijinhos,
    Cherry
    Blog: Life of Cherry

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