segunda-feira, 26 de julho de 2021

De Livro para as Ilhas: Pedro Paulo Câmara

Estamos na reta final do desafio De Livro para as Ilhas, cuja 1ª edição termina a 31 de julho, e não podia deixar de trazer o autor Pedro Paulo Câmara que, depois de se aventurar na poesia, no romance e nos contos (inclusive publiquei opinião do seu livro Contos da Imprudência), publicou recentemente um trabalho de investigação sobre o poeta açoriano Armando Côrtes-Rodrigues. Conheçam um pouco mais sobre o Pedro Paulo Câmara, um autor da ilha de São Miguel (Açores). 


1. Defina-se em 3 palavras.

P: Tentando escapar a uma redução do meu ser, poderia definir-me como determinado, responsável e empático.

2. Escreve apenas quando está inspirado ou tem alguma rotina de escrita?

P: Não tenho qualquer tipo de rotina. No que diz respeito à produção de texto, sou profundamente indisciplinado. Não obrigo um texto a nascer, nem me forço a escrever 5, 10 ou 20 linhas por dia. Escrevo quando me apetece, quando se proporciona, quando a própria envolvência a isso me obriga. Permito que os estímulos do dia-a-dia me incentivem e me contaminem.

3. Escrever no papel ou no computador?

P: Sem hesitar, escrever no papel primeiro. Aprecio verificar, no papel, todo o processo de criação e metamorfose do texto.

4. Publicou recentemente "Violante De Cysneiros: O Outro Lado do Espelho de Côrtes-Rodrigues?", um livro que é resultado de um projeto académico sobre o poeta Armando Côrtes-Rodrigues e seu pseudónimo feminino Violante de Cysneiros. Fale-nos um pouco como surgiu esta curiosidade por este autor açoriano.

P: Ao frequentar a licenciatura, há cerca de 20 anos, e ao frequentar, mais recentemente, o Mestrado em Estudos Portugueses Multidisciplinares, no âmbito do qual surgiu este projeto de investigação, verifiquei que os conteúdos programáticos são, regra geral, muito rígidos e constatei, ainda, que é frequente existirem autores e trabalhos que são obliterados pelos críticos, pelo cânone, pelas Academias, pelos habituais fazedores de opinião. Estou, e serei sempre, consciente das minhas raízes. Portanto, quando surgiu a oportunidade de escolher uma temática que considerasse pertinente e válida, optei por trabalhar Armando Côrtes-Rodrigues e, em particular, Violante de Cysneiros. Na minha opinião, importava perceber quem era quem neste jogo de produção literária. Pela quantidade e diversidade da sua produção literária e pelo papel que este autor desempenhou no panorama cultural açoriano, considero que importava recuperá-lo. Assumo que, sendo um autor pouco estudado, existindo escassa bibliografia sobre o mesmo, e, por muitos, quase desconhecido no panorama nacional, foi uma decisão arriscada. O resultado faria valer a pena.

5. Se pudesse começar uma nova obra de investigação sobre outro escritor açoriano que mereça ser mais estudado, qual é o primeiro nome que lhe ocorre?

P: Esta é uma escolha difícil, porque há autores açorianos cuja obra é profundamente interessante e rica, sendo que urge trazer à ribalta aquilo que escreveram, num determinado tempo, num determinado espaço. Assim, teria de escolher, por exemplo, Roberto de Mesquita, possivelmente, na minha opinião, um dos maiores poetas simbolistas portugueses.

6. Enquanto leitor, qual o género que predomina na sua estante?

P: Poesia, seguramente.

7. Qual o seu sítio favorito para comprar livros?

P: Nos Açores, não posso esquivar-me a referir a livraria Letras Lavadas, onde me sinto em casa, mas sempre que tenho a possibilidade de viajar, adoro revolver as pilhas de livros dos alfarrabistas.

8. Que livro escrito por um(a) autor(a) açoriano(a) é, na sua opinião, de leitura obrigatória?

P: Mau Tempo no Canal.

9. Qual o seu lugar favorito da ilha de São Miguel? Esse sítio já o inspirou de alguma forma na sua escrita?

P: Sou natural da costa oeste da ilha, onde decidi continuar a viver. Considero a minha freguesia, os Ginetes, um espaço de riqueza inegável. Assim, não considero que seja difícil escolher um lugar favorito e terei de apontar a fajã lávica da Ferraria. Na verdade, a Ferraria, o Pico das Camarinhas, a freguesia e a ilha Sabrina já inspiraram uma das minhas obras, o romance histórico Cinzas de Sabrina, cuja parte da ação decorre, precisamente, nesta freguesia.

10. Dê-nos 3 motivos para visitar a ilha de São Miguel.

P: Temos a matéria líquida, o Atlântico-ponte; a matéria sólida, ilhas encantadas, nascidas das entranhas da terra; e a matéria humana, gente de sal e de lava. São os ingredientes essenciais para a criação de um espaço místico e singular.

11. Deixe umas últimas palavras a quem lê esta entrevista.

P: Escrever é um processo de descoberta do outro, do mundo e de mim próprio. Faço-o como quem precisa de alimento e com a mesma sede de quem deambula no deserto da existência há várias noites. Escrever é, verdadeiramente, uma necessidade. Não sou já o mesmo que publicou o Perfumes, no longínquo ano de 2011. Sou o acumular de experiências que me são oferecidas pelos livros que leio, pelas pessoas que abraço, pelas viagens que faço, e talvez seja por isso que os meus livros são tão distintos entre si, no conteúdo e na forma, da poesia à prosa. Escrever é ter uma voz. Essa voz amplifica-se com os leitores e esse percurso foi-se concretizando ao longo dos tempos com a publicação do Perfumes (poesia), do Saliências (poesia), do Cinzas de Sabrina (romance), do Na Casa do Homem sem Voz (poesia), do Contos da Imprudência (contos) e, agora mais recentemente, com o Violante de Cysneiros: o outro lado do espelho de Côrtes-Rodrigues? (investigação), bem como com a colaboração em inúmeras colectâneas nacionais e internacionais.

Espreitem o site do autor: https://pedropaulocamara.wordpress.com/


Esta entrevista foi feita no âmbito do desafio "De Livro para as Ilhas", organizado com a @angiexreads, que se encontra a decorrer até dia 31 de julho e só precisas de ler livros sobre as ilhas dos arquipélagos dos Açores e Madeira para participar.

Com amor, Brenda

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