A noite vai longa e deito-me a chorar. Nos últimos dias não tenho tido sono, não com o que se anda a passar... Ajusto os cobertores para me aquecerem, mas só Deus sabe o frio que tenho no coração, a dor que me consome.
Acordo.
Mais uma noite sem sono profundo, nem sequer um pedacinho de sonho. E eu... que sonho todos os dias as coisas mais parvas do mundo, eu que possuo um inconsciente tão absurdo que me faz sonhar todas as noites, sem falhar uma... Agora nem mereço sonhar.
Visto-me, como a pouca comida que consigo meter no estômago e saio de casa.
E lá está, no meio das árvores e prédios do recinto está o grupinho. O grupinho dos meus pesadelos. Passo por ele e sorrio. Avanço em direção à sala escura e silenciosa e sento-me aguardando pelo professor.
Ele chega, a aula começa. Como é normal chegam alguns atrasados, o grupinho entreolha-se e ri, claramente goza com alguém. Desta vez não sei de quem. Olho para eles e sorrio, afinal é a única maneira de me integrar...
Intervalo. Dois grupinhos separam-se, eu fico à parte como sempre. Um é simpático comigo, o outro nem por isso. Toda a gente parece feliz e amiga. Será que só eu sei a falsidade que aí perdura? Será que só eu sei que todos ali falam mal do que está ao seu lado? Será que só eu sei que amizade é algo que entre aqueles "amigos" não existe?
Olhos voltam-se para mim mirando-me de cima abaixo. Palavras são trocadas com olhares tentando não parecerem focar em mim, mas acabando por incidir subtilmente. Param uns segundos, seguidos de um riso de escárnio. Não sei qual o motivo de tanta risota. Talvez seja o meu cabelo que esteja desajeitado... Sorrio-lhes, deixando-as sem jeito, levando-as a depararem-se com o meu pior defeito: a capacidade de me estar a lixar para o que dizem e como olham. A capacidade de as mandar à fava quando me apetece, virar-lhes as costas e abanar a minha anca magricela de que elas comentam tanto achando que me ofendem.
Aulas recomeçam e acabam. O dia termina e vou para casa acompanhada, como sempre. Estes com quem vou são agradáveis comigo, são simpáticos.
Passa o meu colega menos favorito, aquele que sempre abusou um pouco da minha boa vontade e digo-lhe, como sempre, educadamente "Até amanhã!" e ele responde-me "Adeus, amiga. Até amanhã". Não gosto dessa palavra vinda dele, não sou sua amiga, mas deixo passar, deixo sempre. É bom ouvi-la, mesmo que seja de alguém que após algum tempo queira vir abusar da minha boa vontade. Nessa altura hei-de dar conta do recado, mas por enquanto deixo.
O grupinho olha para ele e ri. Comenta o seu jeito de falar, de andar, de acenar, de rir, ... Eles olham para mim e rio desconfortável, sem saber o que fazer... Sem saber o que faço. Olha que bela amiga.
Chego a casa, tomo banho e janto. Olho para o espelho e vejo o nojo de pessoa que sou. Vejo o podre dentro de mim, o podre que me mata lentamente. Sei o que sou, sei o que sofro com os outros e porque deixo estes fazerem o mesmo com ele? Que tipo de pessoa sou? Porque não respondo e luto por ele?
Ele pode não ser a melhor pessoa deste mundo, pode até ser má pessoa, não sei... Não o conheço bem, mas o que sou se deixo que lhe façam isto? Uma vez ouvi dizer: "O que os outros são não me interessa, o que eu sou para eles é da minha responsabilidade."
E neste momento acordo realmente e limpo as lágrimas. Não vou deixar que façam isto com ele, podem fazê-lo comigo, não quero saber, mas com ele não. Quem deita abaixo os outros não se sente confortável consigo mesmo, não é interessante o suficiente, daí precisar de falar dos outros para se sentir superior, como se lhe trouxesse algum tipo de satisfação.
Isso conforta-me, mostra-me que apesar de não fazer nada determinante para que o outro grupo pare de gozar comigo sei que no fundo essas pessoas querem ser como eu, ter o que eu tenho ou ser o que eu sou. Ele não sabe disso ainda, não sabe as razões, como eu sei as delas, mas vou mostrar-lhe... Vou mostrar-lhe a verdade para que ele também possa lutar de volta tendo consciência do que é dito. Para que ele possa andar de passo firme sabendo do que tanto riem e mostrar todos os dias que não o afetam.
E assim, no reflexo do espelho o podre começa um pouquinho a desaparecer e sinto esperança que talvez um dia ele me perdoe por ter rido dele aquelas vezes... Talvez ele perceba que precisei de errar para perceber a verdade.
Mas ainda permanece a dúvida no ar, será que algum dia essas más pessoas vão morrer com o seu próprio veneno? Não gosto de desejar mal a ninguém, mas espero que sim. Espero que um dia, após tantos anos de risos maldosos, finalmente vejam o podre dentro de si e tentem mudar-se. Pena que já será tarde demais, pena que os estragos que fizeram em outras almas não sejam reversíveis. Acredito que monstros desses não sentem remorsos, monstros desses irão sempre achar que o podre e o motivo de risota está nos outros. Eles são divindades perfeitamente ocas que ficando hoje completas com a tristeza alheia, ficarão assim para sempre, envoltas no seu riso venenoso. Só espero que mesmo antes de darem o seu último fôlego se lembrem do quanto mal fizeram e do quão nojentos são.
Brenda C.
(05-11-2015)
(05-11-2015)
Todas as imagens retiradas do site: https://pixabay.com/pt
Vi o link para o teu blog, através de um comentário que fizeste no blog do meu irmão (recentemente), e após ler este texto; Este primeiro sofrimento, não podia deixar-te apenas na lista dos blogs que sigo.
ResponderEliminarTambém escrevo, obviamente, principalmente com o intuito de alguém no futuro se ligar ao que escrevo, de que ajude alguém a crescer, a compreender melhor o mundo, a si próprio e a tudo o resto pelo meio.
Costumo fazer comentários longos, por isso espero não te aborrecer.
Não sei se tudo isto é real ou apenas parte de uma história, de qualquer das formas, sei bem pelo que estás a passar ou passaste.
Tenho dezenas de post também com este tipo de assuntos, em que uns gozam comigo e eu nada faço para me defender.
Aconteça o que acontecer, lembra-te sempre de uma coisa:
Quando tudo desabar, quando tudo desaparecer, a única coisa com quem podes contar és tu mesma!
Porque quando estiveres sozinha, seja onde for e o tempo que for, a única pessoa com quem poderás conversar, és apenas tu. Por isso faz de ti, por ti. Constrói-te.
Somos sem dúvida alguma animais que precisam dos outros, de uma maneira ou de outra. Mas alguns de nós são capazes de se tornarem Humanos. Capazes de se sobreporem a tudo o que nos compõem e que vem da sociedade, para ser e aceitar tudo aquilo que somos enquanto animais com instintos naturais.
Não tenho muitos amigos. Não costumo falar com mais do que uma pessoa por semana que eu considero "amiga" (tirando o meu irmão). E por essa mesma razão, por esse abandono físico, verbal, psicológico e emocional, não tenho ninguém a quem me ligar. A única pessoa com quem posso contar, sou apenas eu...
O segredo de todo o sofrimento, é torná-lo em algo com que podes aprender. Porque chorar não é só uma emoção exteriorizada fisicamente, é algo muito mais que te pode ensinar e ajudar a descobrir quem és e como és.
Os outros gozam e ficas então a pensar que a razão de o fazerem és tu, que tu tens culpa, que não sabes fazer nada, que és um podre e uma merda de pessoa. Mas o que eles não sabem, e que tu própria vais descobrir, (cedo, espero) é que todos eles juntos, espremidos, não têm uma única conversa interessante, educação para dar ou bons exemplos enquanto futuros pais. Já tu... estás 5 anos à frente! E esse caminho percorrido, vai fazer, e faz, de ti uma mulher incrível que ainda se está a descobrir e a explorar.
O segredo não é sofrer, é aprender com a dor!
http://sonhosembranco.blogspot.pt/
Quando me sinto triste, ou cometo um erro grave, costumo olhar para esses momentos com introspecção. Analiso a situação, deixo-me sofrer, autorizo-me, para poder aprender a lidar com a situação, para aprender com ela, ganhar experiência, para que se algum dia um filho meu cair numa depressão, seja porque motivo for, ou se sentir triste porque lhe morreu um animal, um amigo, um pai, ou caiu com o queixo no chão e começou a deitar sangue, ou algo do género; Físico e/ou emocional, eu quero estar preparado.
EliminarQuero saber lidar com as coisas de forma psicológica e analítica. Quero dar aos meus filhos as ferramentas para eles próprios lidarem com o sofrimento à maneira deles, mas de maneira que os torne únicos e independentes. Que os faça questionar o porquê das coisas, da auto-procura de sim próprios. Conhecerem-se sem medos e tabus.
Direi com palavras tuas: Eu cultivo em mim o sofrimento. Cultivo-o com prazer e de certa forma com um prazer obscuro que nasceu comigo e que despertou a quando da minha primeira depressão por causa de uma "namorada".
Eu coleciono memórias frágeis, infelizes, frias e horrorosas, mas isso faz parte de quem sou enquanto indivíduo.
Cultivo-me de sofrimento, para poder dar valor ao sorriso, à boa disposição, ao amor, às palavras e gestos carinhosos. Porque quando me vires soltar uma gargalhada, será com verdadeiro prazer, com vontade, por alegria.
E não há nada que me alegre mais, do que conhecer o meu sofrimento e poder, de vez em quando, oferecer-lhe um sorriso ou um bom momento.
Se eu quero educar os meus filhos, conhecê-los, tenho primeiro de me educar e conhecer. De enfrentar as situações, aprender com elas, ingeri-las e por vezes, deixar escapar, porque se eu souber tudo e passar por tudo, sozinho como faço sempre, não os estarei a ajudar de todo.
Tanto eles como nós, precisamos de por vezes enfrentar as coisas sozinhos, às nossas custas, com os nossos erros, com dor e angustia, com solidão como companhia. É isso que nos faz fortes e preparados para coisas novas: A experiência de se ser solitário.
Antigamente ficava muito chateado quando gozavam comigo na rua, mas a partir do momento em que reconheci em mim uma certa independência, de despreocupação, de aceitação de quem sou, e do meu aspecto físico, comecei a caminhar mais confiante, com a consciência simples de que: "Eu não sou "diferente" de ti, sou uma pessoa absolutamente normal que calhou em ter o cabelo comprido por gosto próprio e nada mais. E se não gostares tudo bem, porque não me interessa absolutamente nada do que possas pensar."
Sei o que valho enquanto pessoa. Talvez tenha umas piadas um pouco parvas às vezes, mas sei manter uma conversa interessante e consigo manter uma conversa num sítio qualquer porque pura e simplesmente sei desmontar o quadrado, pensar fora dele, e analisar tudo o que me rodeia. Aproveito tudo para tudo. E por saber o que sou, e o que posso dar, quer a futuro filhos ou à futura namorada, sinto-me confiante na minha postura.
O meu pai disse-me um dia: "Tu és aquele tipo de pessoa com quem todos deviam falar pelo menos uma vez na vida."
E tu Brenda, és uma das minhas pessoas! ;)