sábado, 21 de outubro de 2017

Carta aos médicos do meu país



Caros médicos portugueses,

Sei que o nosso sistema de saúde está na merda e vocês trabalham muitas horas extraordinárias. Sei que o cansaço é muito e são seres humanos e, como tal, estão sujeitos a errar mas CARAMBA (que é para não dizer outra coisa...)! Estão a lidar com vidas humanas! Tenham consciência!

Se não te sentes bem, se estás cansado vai para casa, toma um café, um redbull ou faz o raio que te apetecer mas não te esqueças da responsabilidade que o teu trabalho exige! Não permitas que haja uma brecha para errar!

SÃO VIDAS HUMANAS!

Sei que estudaste muito (acredita, sei o quanto têm de estudar pois partilhei casa com estudantes de medicina e vi o quanto estudavam) e achas que estás apto para fazer o teu trabalho, mas esse estudo todo não implica que sejas infalível.

Quando receberes o diploma não estagnes, não penses "Finalmente posso parar de estudar". Enganas-te. É aí que deve começar o teu estudo. Não sucumbas ao conformismo e, acima de tudo, mantém-te informado sobre os avanços da medicina e PRINCIPALMENTE dos erros cometidos pelos teus colegas de profissão.

Não é um crime trocarem impressões dos vossos erros! Devem falar disso precisamente para que não precises de os cometer para aprenderes a lição.

Porque os erros dos outros podem servir para evitar infelicidades e sofrimento que poderiam ser evitados! 

Pensa nisso e, sobretudo, tenta sempre evoluir e ser humano! Sim, ser humano! Nunca sejas insensível às queixas de um paciente, não ignores dores ou preocupações. Pensa que apesar de haver por aí muitos hipocondríacos podem haver pessoas que sentem uma dor real, ainda que tu aches que tudo está bem. Quem sabe a pessoa não tem mesmo razão?

Dá o benefício da dúvida e averigua sempre!

Sê atento e não deixes a situação arrastar-se por muito tempo.

O que mais acontece por aí são urgências do país lotadas, umas por falta de médicos, outras porque o(a) médico(a) de serviço decidiu fazer um almoço de 4 horas num restaurante com uma estrela michelin e lá tem que ficar o pessoal à espera.

Não digo para não irem comer, até exijo que vão comer para estarem no vosso melhor! Mas pelo amor de Deus, tenham consciência, façam o que têm a fazer e voltem ao trabalho. Já me aconteceu  ir várias vezes às urgências e ter que esperar que o médico acabasse o seu almocinho no restaurante do outro lado da ilha. E dessas vezes as urgências nem estavam cheias!

E até me dá a impressão que quanto menos pessoas há nas urgências mais os médicos relaxam. Em vez de tratarem logo do assunto, como se esperaria de um médico eficiente, nãooooo, lá ficamos a criar teias nas cadeiras da sala de espera. 

E consultas? Nem vale a pena marcar! Eu como estudante deslocada tentei marcar, dentro dos 3 meses de férias de verão, uma consulta! Foi adiada por 5x! SIM, 5 FUCKING VEZES! Porque a médica foi de férias praí umas 30 mil vezes naquele verão. (E de inverno também foi... Quero férias assim também! :p)

E por fim a consulta ficou marcada precisamente no dia em que tinha de regressar à faculdade. Hilariante...! -.-

E nem falo do dia das consultas a crianças. É uma vergonha até. Já vi deixarem crianças uma manhã inteira à espera da consulta!

Por isso, meus caros senhores licenciados, mestres ou até doutorados em medicina, tenham por favor considerações pelos utentes. Não é como se um pedido de desculpas resolvesse todas as situações.

Escrevi este texto pois tenho visto cada vez mais situações de negligência perto de mim e estou bem cansada de ouvir pedidos de desculpa (como se resolvessem algo!). E assumirem as consequências dos seus erros? Melhor esperar sentada...

Ser médico é mais do que um título de prestígio, é uma vocação! 
Ser médico não é uma questão de boa média nem de bom salário! E parece-me que alguns precisam de se lembrar disso... Que ser médico implica uma grande responsabilidade e que qualquer falha pode levar a consequências muito graves.

Por isso fica aqui o desabafo. E não posso deixar de agradecer aos (raros) bons médicos pelo nosso país fora, que diariamente tentam que não percamos a esperança nesta profissão.

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