Lá vens tu.
Todas as tardes vejo-te chegar, olhar em volta e sentar no banco mais remoto de todo o jardim.
Pões os auriculares, ligas a música e fechas os olhos para ninguém ver as voluptuosas lágrimas que se agregam nesses teus olhos de mel.
Para quem passa és apenas um rapaz a desfrutar de uma música envolvente. Mal sabem eles o quão envolvente é...
Os olhos abrem-se duas ou três músicas depois. Olhas fixamente o chão, como se estivesses a vê-lo mover-se debaixo dos teus pés. Pouco depois olhas para cima, para o grande e velho carvalho do parque. Vês como se eleva sobre a tua cabeça e acredito que a cada segundo que passas a observá-lo te sentes cada vez mais pequeno.
Fazes sempre isto todos os dias. E todos os dias venho para aqui tentar escrever e volto de caderno em branco para casa. Não porque não me sinta inspirada, até porque essa tua alma quebrada é inspiração para mil e um poemas de dor, simplesmente esmagas-me de tal forma o espírito que não consigo traduzir-te em palavras.
Vens cada vez mais magro e as olheiras acentuam-se cada vez mais. Temo que não te andes a alimentar e que o sono não ande a ser bondoso contigo.
Temo que durmas e o teu pesadelo seja acordar.
Não sei quem te partiu o coração mas é penoso ver uma alma humana decair dia após dia. E tenho a certeza que ela um dia irá sentir a tua falta.
🌳
Duas horas e pouco se passam. Arrumas os auriculares e ao levantares-te olhas para mim. Sorris e vais embora.
Lá vais tu... pouco depois vou eu... de caderno vazio e alma cheia.
0 comentários:
Enviar um comentário